terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Capítulo 7: Inesperado.

Capítulo 7: Inesperado.


Acabei de sair do carro abafado, observo as casinhas que em seis anos nunca mudaram. Havia uma família nova morando no lugar dos Oliveiras. Acabei de acenar para um garotinho brincando com um Yorkshire. Virei- me para a casa e tudo lá estava no mesmo estado de conservação e o cantinho continua lá. Lotado de cinzas dos móveis queimados. Passei pelo portão e comecei a andar pelo quintal com lágrimas nos olhos. Olhei pela janela e tudo estava empoeirado, escutei meu irmão correndo e então o senti pular em minhas costas, para carregá-lo. Fiz isso.
Fui andando em direção a porta. Soltei meu irmão e fui abrir a porta quando escutei minha mãe gritando.
-Hey! Vocês estão esquecendo as malas! – Voltei bem rápido para não ter problemas com minha mãe. Logo peguei a minha mochila com as minhas coisas importantes, uma mala grande e um “Obrigado, motorista’’ saiu sem querer, mesmo assim o homem respondeu com um sorriso. Eu, minha mãe e Fernando deixamos as coisas na entrada e abri a porta. Tudo estava coberto de uma camada de poeira.
– E então... – Minha mãe esperava alguma resposta.
– Limpar as coisas?- Perguntei.
– Estava esperando alguém responder... Vou checar a dispensa. – Minha mãe entrou na cozinha enquanto eu e Fernando abrimos as janelas da casa para arejar. Quando voltamos, havia dois panos e meio desinfetante em cima damesa. – Aquiles, passe no mercadinho e compre isso tudo que está na lista. – E me entregou um papel e uma nota de 20. Sem falar nada, me virei e fui andando em direção á porta, coloquei o papel e o dinheiro no bolso da minha calça Jeans preta. Eu usava uma blusa, all star, calça,duas munequeiras em cada pulso e um cordão com uma cruz vazia, tudo fora o cordão era preto. Quando cheguei na calçada olhei para o portão da casa de Luiz, tentei me lembrar do caminho do mercado. Pensei e virei á esquerda, no caminho da casa de Ana. Depois do que aconteceu com Luiz, precisava ir lá para lamentar e pedir desculpas pela borrada que meu pai fez. Respirei e comecei a andar.

Chegando no portão, toquei a campainha e esperei que Ana me reconhecesse depois de seis anos. Alguns instantes tive uma surpresa quando o portão se abriu.
Não era Ana, era uma garota de cabelos morenos com mechas californianas.
- Eh... Alice? - Queria ter certeza mesmo.
- Normal me confundirem né... Sou a Thamires, espera aí. – Thamires, assim chamada, colocou a cabeça para dentro do portão e gritou o nome de Alice. Fiquei com muita vergonha. Logo Alice chegou e era extremamente igual á Thamires. Elas eram gêmeas e eu não sabia. E ela não me reconheceu, talvez naquela aula ela não tenha me reparado.
- Oi, quer falar comigo? - Alice olhou para mim, ela e sua irmã tinham lindos olhos verdes.
- Bem, Ana ainda mora nessa casa? - Perguntei intrigado.
- Sim, quer falar com ela? - Alice ficou irritada e deu uma cotovelada discreta em Thamires.
- Quero sim, sou amigo do Luiz. – Quando eu falei aquilo as duas fizeram caras tristes, Thamires balançou a cabeça e as duas entraram em silêncio. Aquilo me assustou.

Alguns minutos depois Ana saiu do portão. Ela estava linda. Usava um short Jeans, blusa vermelha com o umbigo aparecendo, o cabelo estava grande e liso ela não tinha mudado muito. Seus olhos estava vermelhos e ela tinha grandes olheiras de quem passou a noite chorando.
- Oi, Alessandro né? - Ela tinha uma voz triste.
- Aquiles. – Corrigi – Olá, Ana. Ela sorriu em resposta.
- Desculpe, eu estou meio... Abobada. – Logo percebi que se tratava de Luiz quando ela abaixou a cabeça. Pus a mão em seu queixo e o levantei.
- Ana... Estou aqui em nome de meu pai, lamentar e pedir desculpas á o que aconteceu com o Luiz. Como ele felizmente está morto, ele jamais vai pedir desculpas, por isso vim fazer isso no lugar dele. – Ana arregalou os olhos e tirou minha mão do rosto dela e começou a gritar.
- ERA SEU PAI¿ DESGRAÇADO! VOCÊ DEVE SER UM PSICOPATA IGUAL Á ELE, É DO SEU SANGUE! - Ela me acertou um tapa na cara, continuei olhando para o chão. E ela abaixou a voz. – Quando eu acabei de discutir e terminar com ele, com raiva, Luiz foi atravessar a rua sem prestar atenção para sair dali logo, quando... Quando... Um carro veio e acertou ele em cheio, e era seu pai. Desgraçado! – Ana começou a chorar e me dar tapas fracos nos ombros. Segurei os pulsos dela, não forte, mas na força suficiente para evitar os tapas. Ela se debateu e o cabelo ficou em seu rosto e podia a ouvir sussurrando “desgraçado” o tempo todo. Quando ela percebeu que não adiantaria nada. Parou de se debater e eu coloquei suas mãos em meus ombros, com uma das minhas mãos envolvi a cintura dela e com a outra, tirei os cabelos de seu rosto e ficamos com os lábios á um centímetro de distância. Eu dei um beijo rápido para ver sua reação, quando percebi que ela também queria á beijei de verdade... De língua.

Alguns instantes depois, tirei a mão da cintura de Ana. Ela me abraçou forte.
- Desculpe pelo tapa, Aquiles, me... Descontrolei. – Ela estava envergonhada.
- Não há problema nenhum. – Sorri. E nos beijamos novamente, dessa vez com menos vergonha.
- Preciso ir, Aquiles. – Ana se soltou de mim e andou em direção ao portão, com um sorriso discreto no rosto.
- Eu também, até mais. – Antes que ela fechasse o portão, respirei e puxei o braço dela e á beijei novamente. Ela ficou feliz com minha atitude.
- Adeus. – Dessa vez o portão fechou mesmo e eu lembrei-me da compra que eu tinha que fazer.
Fiz as compras e voltei para casa com um sorriso abobalhado no rosto. Durante seis anos eu amei Alice. Mas agora...
Entreguei meu coração á Ana. Ela fez o mesmo.

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