Capítulo 5: A fuga
É tarde sem-graça de Segunda, eu estou aqui em meu quarto fazendo, meu dever de casa de Ciências, o Professor Alberico, apesar de ter um nome diferente é muito legal. Distraio-me por 2 segundos e já estou pensando de novo em Alice.
-Será que eu consigo desenhar o rosto dela? – Falei comigo mesmo.
Nas minhas memórias, eu não tinha uma imagem perfeita de Alice para desenhar. Não me lembro de muitos detalhes dela. Desisto, amasso o papel de rascunho do desenho e jogo para o lado.
- 2° Questão de 5... – Falei sozinho para tentar me concentrar. – Essa semana vai ser chata, sim, estou amando Alice, mas estou odiarei ter que ir para a escola se eu quiser vê-la. – Resmunguei.
O resto do dia eu não fiz nada de muito interessante. Apenas terminei de fazer a tarefa de casa e coloquei o CD que Luiz me deu. As músicas eram ótimas, fiquei estudando mais e mais letras, parei apenas porque minha mãe chegou da rua, ela tinha ido buscar meu irmão na escolinha dele e aproveitou para comprar a janta. Comi minha comida e fiquei na sala assistindo TV até eu cair no sono. E foram assim também a Terça, Quarta e a Quinta feira daquela semana. Até algo quebrar minha rotina.
Era sexta-feira de manhã, levantei assustado da cama, eram 05h35min da manhã, faltavam 25 minutos para eu acordar. Eu tive o pressentimento de que alguém estava me observando. Minha mãe e Fernando ainda dormiam e o bairro estava mergulhado no silêncio. Liguei a TV em um canal de notícias qualquer, nada de novo no mundo. Quando estava fechando os olhos, senti alguém me olhando novamente, me despertei assustado. Eram 06h06min da manhã, comecei a tomar meu banho e a me arrumar. Eu estava saindo de casa, o relógio marcava 6h45min. Tranquei a porta e fui andando para o portão. Não vi Luiz ou Ana indo para o Colégio. Decidi ir sozinho. Foram os 10 minutos assustadores, não havia carros ou pessoas na quantidade que normalmente têm. O céu estava cinza e estava trovejando muito, por sorte eu deixo um guarda-chuva na mochila para caso eu precise.
Entrei na escola e as pessoas do colegial estavam como sempre, ninguém estava animado por ser Sexta. Fui direto para minha sala de aula eram 07h00min, entrei junto com o Professor Eduardo de matemática. Pude abrir o primeiro sorriso do dia ao ver Alice no fundo da sala, eu sentei na frente, o que me fez perder o campo de visão de Alice. Restou-me prestar atenção nas aulas.
Voltando para casa sozinho de novo, estava um pouco curioso sobre o paradeiro de Luiz e de Ana, essa semana inteira indo para a aula. Abri o portão de casa e fui me dirigindo para a entrada da casa. Algo me esperava.
Destranquei a porta e vi que não tinha ninguém lá, quando dei conta de mim, estava pisando em um envelope de papel pardo lacrado com fita durex. Quando peguei o envelope, achei que fosse algum recado de Luiz me dizendo que não iria para a escola hoje e quando saí de manhã posso não ter visto quando sai. Era totalmente o oposto do que Luiz faria, fiquei arrepiado quando vi.
Eram fotos, todas eram minhas. Havia três fotos de mim indo para a escola, escrito o dia da semana e a hora que tinha e três de mim voltando com a mesma escrita e então eu vi...
Era uma foto tirada... De dentro do meu quarto, de mim dormindo. Larguei as fotos no chão e corri para o telefone da cozinha, meu pai voltou.
Peguei uma faca e liguei para a polícia expliquei tudo para a atendente e disse que mandaria uma viatura para o endereço daqui de casa. Em seguida liguei para minha mãe, e falei o que aconteceu. Ela estava vindo para casa.
Eu estava em choque, queria ir para algum lugar bem longe dos problemas... Eu teria corrido para o meu esconderijo. Se minha mãe não tivesse queimado mobílias velhas lá dentro. Agora só existem cinzas e sonhos amassados naquele lugar. Escutei algum homem chamando no portão. A polícia enfim tinha chego. Fui andando rápido para abrir o portão. Eram dois policiais.
- Foi daqui que saiu o chamado de ameaça? – Perguntou um dos dois
- Sim, fui eu mesmo que liguei, vamos entrando. – Falei abrindo mais ainda o portão e os dois entraram. Fui andando na frente e abri a porta de casa.
Amostrei as fotos para os policiais, e expliquei o que tinha acontecido. Eles fizeram algumas ligações e descobriram que meu pai nunca entrou na delegacia da região. Ele nem chegou a ser interrogado pelo incidente com minha mãe. Quando eu comecei a ficar mais preocupado minha mãe entrou correndo pela sala. Quando viu os dois policiais percebeu que o que eu falava era sério. Fomos levados para a delegacia para ser colocados em um programa de proteção. Minha mãe ligou para o meu avô para buscar o Fernando na escola e cuidar dele até voltarmos.
Alguns agentes fizeram algumas perguntas para mim e para minha mãe, sobre o incidente, como meu pai era em casa, se tinha algum tipo de distúrbio e outras milhares perguntas. Depois de duas horas o delegado veio com papéis nas mãos, respirou fundo e começou a falar.
- Bem, Aquiles e Carine. Tem mais alguém na família que estava na casa durante o incidente de Domingo?
- Meu filho de 4 anos, Fernando.
- Ótimo... Vocês terão que sair do estado por tempo indeterminado. Por precaução, o seu esposo, Senhora Carine é um procurado.
- Como assim? – Perguntei, veio então, Ana, Luiz e Alice em minha mente.
- Isso mesmo. Agora vão, vocês precisam sair daqui ainda hoje. – E saiu para resolver algum outro caso, como disse um agente que chegou ao seu lado.
Saímos da delegacia com o coração um pouco apertado, passamos na casa dos meus avós, minha mãe explicou tudo e minha avó Abigail chorou um pouco mas entendeu. Passei na casa de Luiz, enquanto minha mãe arrumava as coisas com dois policiais escoltando a casa. Não tinha ninguém na casa de Luiz. Escrevi um recado:
Luiz...
Minha família precisa ir embora, estamos em perigo. Não tenho idéia de para aonde, mas não vou esquecer-me de você.
Mas quero te agradecer por tudo, por ser meu amigo e a força e os CDs e a blusa.
Isso não é um adeus, talvez um... Até mais ver
Mande lembranças para a Ana.
Aquiles.
Eu, minha mãe e Fernando entraram em um carro preto, enorme, todos os nossos pertences que poderíamos levar estavam em uma mala enorme. Meus CDs, cadernos da escola e 5 blusas, incluindo a que Luiz me deu, estavam em uma mochila. Olhei meu bairro indo desaparecendo na fumaça do carro enorme, e uma lágrima escorreu por meu rosto.
- Adeus... – Pude dizer bem baixo.
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