terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Capítulo 7: Inesperado.

Capítulo 7: Inesperado.


Acabei de sair do carro abafado, observo as casinhas que em seis anos nunca mudaram. Havia uma família nova morando no lugar dos Oliveiras. Acabei de acenar para um garotinho brincando com um Yorkshire. Virei- me para a casa e tudo lá estava no mesmo estado de conservação e o cantinho continua lá. Lotado de cinzas dos móveis queimados. Passei pelo portão e comecei a andar pelo quintal com lágrimas nos olhos. Olhei pela janela e tudo estava empoeirado, escutei meu irmão correndo e então o senti pular em minhas costas, para carregá-lo. Fiz isso.
Fui andando em direção a porta. Soltei meu irmão e fui abrir a porta quando escutei minha mãe gritando.
-Hey! Vocês estão esquecendo as malas! – Voltei bem rápido para não ter problemas com minha mãe. Logo peguei a minha mochila com as minhas coisas importantes, uma mala grande e um “Obrigado, motorista’’ saiu sem querer, mesmo assim o homem respondeu com um sorriso. Eu, minha mãe e Fernando deixamos as coisas na entrada e abri a porta. Tudo estava coberto de uma camada de poeira.
– E então... – Minha mãe esperava alguma resposta.
– Limpar as coisas?- Perguntei.
– Estava esperando alguém responder... Vou checar a dispensa. – Minha mãe entrou na cozinha enquanto eu e Fernando abrimos as janelas da casa para arejar. Quando voltamos, havia dois panos e meio desinfetante em cima damesa. – Aquiles, passe no mercadinho e compre isso tudo que está na lista. – E me entregou um papel e uma nota de 20. Sem falar nada, me virei e fui andando em direção á porta, coloquei o papel e o dinheiro no bolso da minha calça Jeans preta. Eu usava uma blusa, all star, calça,duas munequeiras em cada pulso e um cordão com uma cruz vazia, tudo fora o cordão era preto. Quando cheguei na calçada olhei para o portão da casa de Luiz, tentei me lembrar do caminho do mercado. Pensei e virei á esquerda, no caminho da casa de Ana. Depois do que aconteceu com Luiz, precisava ir lá para lamentar e pedir desculpas pela borrada que meu pai fez. Respirei e comecei a andar.

Chegando no portão, toquei a campainha e esperei que Ana me reconhecesse depois de seis anos. Alguns instantes tive uma surpresa quando o portão se abriu.
Não era Ana, era uma garota de cabelos morenos com mechas californianas.
- Eh... Alice? - Queria ter certeza mesmo.
- Normal me confundirem né... Sou a Thamires, espera aí. – Thamires, assim chamada, colocou a cabeça para dentro do portão e gritou o nome de Alice. Fiquei com muita vergonha. Logo Alice chegou e era extremamente igual á Thamires. Elas eram gêmeas e eu não sabia. E ela não me reconheceu, talvez naquela aula ela não tenha me reparado.
- Oi, quer falar comigo? - Alice olhou para mim, ela e sua irmã tinham lindos olhos verdes.
- Bem, Ana ainda mora nessa casa? - Perguntei intrigado.
- Sim, quer falar com ela? - Alice ficou irritada e deu uma cotovelada discreta em Thamires.
- Quero sim, sou amigo do Luiz. – Quando eu falei aquilo as duas fizeram caras tristes, Thamires balançou a cabeça e as duas entraram em silêncio. Aquilo me assustou.

Alguns minutos depois Ana saiu do portão. Ela estava linda. Usava um short Jeans, blusa vermelha com o umbigo aparecendo, o cabelo estava grande e liso ela não tinha mudado muito. Seus olhos estava vermelhos e ela tinha grandes olheiras de quem passou a noite chorando.
- Oi, Alessandro né? - Ela tinha uma voz triste.
- Aquiles. – Corrigi – Olá, Ana. Ela sorriu em resposta.
- Desculpe, eu estou meio... Abobada. – Logo percebi que se tratava de Luiz quando ela abaixou a cabeça. Pus a mão em seu queixo e o levantei.
- Ana... Estou aqui em nome de meu pai, lamentar e pedir desculpas á o que aconteceu com o Luiz. Como ele felizmente está morto, ele jamais vai pedir desculpas, por isso vim fazer isso no lugar dele. – Ana arregalou os olhos e tirou minha mão do rosto dela e começou a gritar.
- ERA SEU PAI¿ DESGRAÇADO! VOCÊ DEVE SER UM PSICOPATA IGUAL Á ELE, É DO SEU SANGUE! - Ela me acertou um tapa na cara, continuei olhando para o chão. E ela abaixou a voz. – Quando eu acabei de discutir e terminar com ele, com raiva, Luiz foi atravessar a rua sem prestar atenção para sair dali logo, quando... Quando... Um carro veio e acertou ele em cheio, e era seu pai. Desgraçado! – Ana começou a chorar e me dar tapas fracos nos ombros. Segurei os pulsos dela, não forte, mas na força suficiente para evitar os tapas. Ela se debateu e o cabelo ficou em seu rosto e podia a ouvir sussurrando “desgraçado” o tempo todo. Quando ela percebeu que não adiantaria nada. Parou de se debater e eu coloquei suas mãos em meus ombros, com uma das minhas mãos envolvi a cintura dela e com a outra, tirei os cabelos de seu rosto e ficamos com os lábios á um centímetro de distância. Eu dei um beijo rápido para ver sua reação, quando percebi que ela também queria á beijei de verdade... De língua.

Alguns instantes depois, tirei a mão da cintura de Ana. Ela me abraçou forte.
- Desculpe pelo tapa, Aquiles, me... Descontrolei. – Ela estava envergonhada.
- Não há problema nenhum. – Sorri. E nos beijamos novamente, dessa vez com menos vergonha.
- Preciso ir, Aquiles. – Ana se soltou de mim e andou em direção ao portão, com um sorriso discreto no rosto.
- Eu também, até mais. – Antes que ela fechasse o portão, respirei e puxei o braço dela e á beijei novamente. Ela ficou feliz com minha atitude.
- Adeus. – Dessa vez o portão fechou mesmo e eu lembrei-me da compra que eu tinha que fazer.
Fiz as compras e voltei para casa com um sorriso abobalhado no rosto. Durante seis anos eu amei Alice. Mas agora...
Entreguei meu coração á Ana. Ela fez o mesmo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Capítulo 6: O Retorno.

Capítulo 6: O Retorno.

Dizem quem o tempo passa rápido. Que um ou dois anos longe da sua antiga vida, dos seus amigos não são muita coisa, realmente não são. Mas SEIS anos longe de tudo são muita coisa. Por mais que eu abandonei tudo durante tanto tempo assim, nada mudou. Na minha primeira apresentação cantando “The Kill” do Thirty Seconds to Mars, todos me aplaudiram de pé. Mas isso não impediu os “caras legais” de me darem uma surra por ter ganhado do amigo deles. Falei com o diretor sobre isso, nada foi feito. Fiquei muito feliz quando minha mãe entrou no meu quarto e disse que iríamos voltar para a antiga casa no mês seguinte. Por mais que eu estivesse feliz, não vou esquecer-me do que aconteceu durante esses SEIS anos de tortura:

Meus dois primeiros anos na escola nova foram pacatos, eu tirava notas boas, não tinha amigos e vivia o dia inteiro treinando minha voz...
Quando fiz treze anos, os caras do 2°ano do Ensino Médio ficavam implicando comigo, por eu não ter amigos e gostar de Metal, Rock e outros.
A primeira brincadeira foi atirarem pilhas e bolas de gude em mim enquanto eu subia as escadas, jogavam borrachas e amendoins em mim, roubavam minha mochila e eu a achava dentro de alguma lixeira na escola e até mesmo na rua.

Aquele ano eu pude suportar a tudo. Quando fiz quatorze, me deram cinco banhos de sorvete de creme derretido, e na saída da Educação Física, me amarraram e envolvendo um sabonete numa toalha molhada, deram 17 batidas fortes: dez na barriga, cinco no peito e duas na cabeça. Eu queria me vingar.
A gota d’água foi num concurso da escola que eles me jogaram água. Fui atrás de Jorge, um dos que faziam isso comigo. Comecei a bater nele em um corredor. Eu socava sua cara, e o enforquei com um cinto.
- Olhe nos meus olhos cara, você está me matando. – Jorge conseguiu dizer mesmo sem ar direito em seus pulmões. Soltei-o, não fui feito para matar. Saí dali rápido. Naquele ano, não ouve mais provocações ou agressões.

No ano seguinte, fiz quinze anos, os caras do 2° ano tinham se formado e eu achei que conseguiria viver em paz. Pelo contrário. Jorge não era do 2° ano, era do 1° ano, então ele e alguns caras continuaram me importunando. E a última coisa que fizeram foi essa surra que eu levei. Minha mãe ficou revoltada, queria logo ir embora, eu também. Fui parar no hospital com um braço quebrado e o orgulho pior que quebrado. Levaram meu troféu.
Para não falar que eu não tinha amigos, eu tinha um. Seu nome é Caio. Conhecemo-nos no show de uma banda local. Ele não estava no hospital comigo, foi atrás dos caras para buscar meu troféu. Ele apareceu cinco dias depois, na porta da minha casa, todo machucado e com meu troféu sujo de sangue. Dei um abraço nele e minha mãe cuidou dos machucados de Caio. Liguei para a mãe dele e expliquei a situação. Caio passou aquela noite na minha casa.

Agora tenho 16 anos, eu estava á um mês das minhas férias de Julho. Minha mãe entrou no meu quarto e me deu a noticia da nossa volta. Comecei a cantar Metallica. Eu estava realmente muito feliz. No dia seguinte eu tinha dado a notícia a Caio, ele não ficou muito feliz, mas entendeu.
Agora a pergunta é... Como e aonde pegaram meu pai? Não pegaram. O “Alexandre” numa fuga bateu com o carro e morreu na hora, para piorar...
Levou Luiz junto da merda que ele fez. Luiz está em coma no hospital, com as duas pernas quebradas e com traumatismo craniano.

Fiquei com vontade de ressuscitar meu pai para poder eu mesmo matá-lo novamente, mas isso não era possível. Tive que me contentar com o ódio no coração e maldições que roguei pra alma dele. Fiquei tentando imaginar como Ana estava se sentindo.

Chegou o dia, com as coisas arrumadas e Fernando já sabendo falar e andar voltamos para a antiga casa.
- Irmão... Quando agente chegar, brinca comigo? – Fernando estava animado em se mudar.
- Claro. – Dei um sorriso para ele e voltei a olhar pela janela do carro.
Depois de 8 horas de viagem e apenas 3 paradas, pude avistar minha casa se aproximando do carro. Comecei a sorri muito, finalmente poderia ver minha velha casa novamente. Tudo bem, eu admito... Queria ver Alice.
Fiquei esses 6 anos inteiros imaginando como ela estaria. Se continua linda e misteriosa, algo me dizia que sim. Mas eu queria ter certeza.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Capítulo 5: A fuga

Capítulo 5: A fuga

É tarde sem-graça de Segunda, eu estou aqui em meu quarto fazendo, meu dever de casa de Ciências, o Professor Alberico, apesar de ter um nome diferente é muito legal. Distraio-me por 2 segundos e já estou pensando de novo em Alice.
-Será que eu consigo desenhar o rosto dela? – Falei comigo mesmo.
Nas minhas memórias, eu não tinha uma imagem perfeita de Alice para desenhar. Não me lembro de muitos detalhes dela. Desisto, amasso o papel de rascunho do desenho e jogo para o lado.
- 2° Questão de 5... – Falei sozinho para tentar me concentrar. – Essa semana vai ser chata, sim, estou amando Alice, mas estou odiarei ter que ir para a escola se eu quiser vê-la. – Resmunguei.

O resto do dia eu não fiz nada de muito interessante. Apenas terminei de fazer a tarefa de casa e coloquei o CD que Luiz me deu. As músicas eram ótimas, fiquei estudando mais e mais letras, parei apenas porque minha mãe chegou da rua, ela tinha ido buscar meu irmão na escolinha dele e aproveitou para comprar a janta. Comi minha comida e fiquei na sala assistindo TV até eu cair no sono. E foram assim também a Terça, Quarta e a Quinta feira daquela semana. Até algo quebrar minha rotina.

Era sexta-feira de manhã, levantei assustado da cama, eram 05h35min da manhã, faltavam 25 minutos para eu acordar. Eu tive o pressentimento de que alguém estava me observando. Minha mãe e Fernando ainda dormiam e o bairro estava mergulhado no silêncio. Liguei a TV em um canal de notícias qualquer, nada de novo no mundo. Quando estava fechando os olhos, senti alguém me olhando novamente, me despertei assustado. Eram 06h06min da manhã, comecei a tomar meu banho e a me arrumar. Eu estava saindo de casa, o relógio marcava 6h45min. Tranquei a porta e fui andando para o portão. Não vi Luiz ou Ana indo para o Colégio. Decidi ir sozinho. Foram os 10 minutos assustadores, não havia carros ou pessoas na quantidade que normalmente têm. O céu estava cinza e estava trovejando muito, por sorte eu deixo um guarda-chuva na mochila para caso eu precise.

Entrei na escola e as pessoas do colegial estavam como sempre, ninguém estava animado por ser Sexta. Fui direto para minha sala de aula eram 07h00min, entrei junto com o Professor Eduardo de matemática. Pude abrir o primeiro sorriso do dia ao ver Alice no fundo da sala, eu sentei na frente, o que me fez perder o campo de visão de Alice. Restou-me prestar atenção nas aulas.
Voltando para casa sozinho de novo, estava um pouco curioso sobre o paradeiro de Luiz e de Ana, essa semana inteira indo para a aula. Abri o portão de casa e fui me dirigindo para a entrada da casa. Algo me esperava.
Destranquei a porta e vi que não tinha ninguém lá, quando dei conta de mim, estava pisando em um envelope de papel pardo lacrado com fita durex. Quando peguei o envelope, achei que fosse algum recado de Luiz me dizendo que não iria para a escola hoje e quando saí de manhã posso não ter visto quando sai. Era totalmente o oposto do que Luiz faria, fiquei arrepiado quando vi.

Eram fotos, todas eram minhas. Havia três fotos de mim indo para a escola, escrito o dia da semana e a hora que tinha e três de mim voltando com a mesma escrita e então eu vi...
Era uma foto tirada... De dentro do meu quarto, de mim dormindo. Larguei as fotos no chão e corri para o telefone da cozinha, meu pai voltou.
Peguei uma faca e liguei para a polícia expliquei tudo para a atendente e disse que mandaria uma viatura para o endereço daqui de casa. Em seguida liguei para minha mãe, e falei o que aconteceu. Ela estava vindo para casa.

Eu estava em choque, queria ir para algum lugar bem longe dos problemas... Eu teria corrido para o meu esconderijo. Se minha mãe não tivesse queimado mobílias velhas lá dentro. Agora só existem cinzas e sonhos amassados naquele lugar. Escutei algum homem chamando no portão. A polícia enfim tinha chego. Fui andando rápido para abrir o portão. Eram dois policiais.
- Foi daqui que saiu o chamado de ameaça? – Perguntou um dos dois
- Sim, fui eu mesmo que liguei, vamos entrando. – Falei abrindo mais ainda o portão e os dois entraram. Fui andando na frente e abri a porta de casa.

Amostrei as fotos para os policiais, e expliquei o que tinha acontecido. Eles fizeram algumas ligações e descobriram que meu pai nunca entrou na delegacia da região. Ele nem chegou a ser interrogado pelo incidente com minha mãe. Quando eu comecei a ficar mais preocupado minha mãe entrou correndo pela sala. Quando viu os dois policiais percebeu que o que eu falava era sério. Fomos levados para a delegacia para ser colocados em um programa de proteção. Minha mãe ligou para o meu avô para buscar o Fernando na escola e cuidar dele até voltarmos.

Alguns agentes fizeram algumas perguntas para mim e para minha mãe, sobre o incidente, como meu pai era em casa, se tinha algum tipo de distúrbio e outras milhares perguntas. Depois de duas horas o delegado veio com papéis nas mãos, respirou fundo e começou a falar.
- Bem, Aquiles e Carine. Tem mais alguém na família que estava na casa durante o incidente de Domingo?
- Meu filho de 4 anos, Fernando.
- Ótimo... Vocês terão que sair do estado por tempo indeterminado. Por precaução, o seu esposo, Senhora Carine é um procurado.
- Como assim? – Perguntei, veio então, Ana, Luiz e Alice em minha mente.
- Isso mesmo. Agora vão, vocês precisam sair daqui ainda hoje. – E saiu para resolver algum outro caso, como disse um agente que chegou ao seu lado.

Saímos da delegacia com o coração um pouco apertado, passamos na casa dos meus avós, minha mãe explicou tudo e minha avó Abigail chorou um pouco mas entendeu. Passei na casa de Luiz, enquanto minha mãe arrumava as coisas com dois policiais escoltando a casa. Não tinha ninguém na casa de Luiz. Escrevi um recado:
Luiz...
Minha família precisa ir embora, estamos em perigo. Não tenho idéia de para aonde, mas não vou esquecer-me de você.
Mas quero te agradecer por tudo, por ser meu amigo e a força e os CDs e a blusa.
Isso não é um adeus, talvez um... Até mais ver
Mande lembranças para a Ana.
            Aquiles.

Eu, minha mãe e Fernando entraram em um carro preto, enorme, todos os nossos pertences que poderíamos levar estavam em uma mala enorme. Meus CDs, cadernos da escola e 5 blusas, incluindo a que Luiz me deu, estavam em uma mochila. Olhei meu bairro indo desaparecendo na fumaça do carro enorme, e uma lágrima escorreu por meu rosto.
- Adeus... – Pude dizer bem baixo.

Capítulo 4: Descobri a Paixão.

Capítulo 4: Descobri a Paixão.


Um brilho demasiado atinge meus olhos, abro os olhos e percebo que realmente dormi na porta do quarto de minha mãe. Levantei e senti uma dor imensa nas costas. Fui até a cozinha guardar a faca. Tomei um café forte, apesar de nunca ter tomado café nenhum. E vi a blusa da Amy Lee jogada no sofá, o que me lembrou de uma coisa.
- HOJE EU TENHO AULA! – Gritei dentro da cozinha e fui correndo procurar um relógio. Eram 06h20min, eu não estava tão atrasado assim. Tomei um banho rápido, coloquei os cadernos novos dentro da minha mochila, vesti minha calça, coloquei desodorante e em seguida a blusa da Amy Lee, meu cabelo estava um pouco grande e caía por meus ombros. Estava ótimo, pelo menos para mim.


Tranquei a porta de casa e fui andando para o portão quando vi Luiz sair do portão de sua casa também. Andei em direção á ele para agradecê-lo pelo CD e pela blusa.
- Muito obrigado, Luiz! – Ele se virou e estendeu á mão para eu apertá-la, e fiz.
- Não tem problema, Aquiles. Humanos têm que se ajudarem, ainda mais quando forem amigos.
“Amigos”, então sou amigo dele. É a primeira vez que alguém me diz isso. Fiquei muito feliz e deixei isso transparecer. Começamos a andar na calçada, ele mais uma vez estava de preto.
- Será que você pode ir ali comigo? Rapidinho! – Luiz parou de andar porque pareceu que se lembrou de alguma coisa.
- Bem... Claro – Falei
- Então me segue. – Luiz começou a andar mais rápido, mas na direção oposta da escola, no meio do caminho, comecei a me assustar um pouco. Por um instante achei que Luiz iria me levar para algum problema.

Paramos em frente á uma casa com o muro não muito alto, um portão normal e um de garagem cinza. Luiz tocou a campainha e alguns instantes depois o portão se abriu, lá de dentro saiu uma garota... Bem bonita. Luiz á cumprimentou com um beijo, um selinho, na verdade. E me disse o que eu esperaria que ele me dissesse.
- Aquiles... Essa é a Ana, minha namorada.
- Olá Ana! – Dei um sorriso e olhei nos olhos dela. Ana estava usando um short jeans, com uma meia arrastão preta por baixo, tênis all-star, blusa com meia-manga preta, um colar de coração preto também, um cabelo não muito longo e um piercing no lábio inferior. Fiquei com vergonha ao ter conhecido uma garota do colegial, mas foi assim que conheci Ana.
- Luiz... Vamos? – Perguntei.
- Vamos andando. – Luiz sorriu e começou a andar eu fui atrás dos dois para não “segurar vela”. O caminho inteiro foi só eu escutando Luiz, falando coisas no ouvido de Ana e ela dando alguns risinhos de vez em quando. Eles eram completamente felizes.

Chegamos enfim na minha “escola nova”. Senti-me uma formiga no meio de tanta gente alta e sorridente. Estava perdido, não sabia onde estavam Luiz e Ana, então vi um quadro á minha frente que estava escrito com letras pratas brilhosas: “Ache aqui sua turma”. Andei até o quadro e desviando de muitas crianças coloquei meu dedo na lista do 6°ano. Procurei meu nome na letra “A” e não achei, olhei na lista ao lado e lá estava.
“02. Aquiles Carvalho Gonçalves”. Estou na turma 602.

Logo procurei minha sala, a escola era imensa, o único rosto conhecido era o da Amy Lee, que estava na minha camiseta. Então um cara chegou perto de mim.
- Olá, vejo que você tá perdido... Meu nome é Matheus! – Ele era muito simpático e talvez seria o meu primeiro amigo naquela escola.
- Oi Matheus, meu nome é Aquiles. Sim estou um pouco perdido... Pode me dizer onde é a sala 602 ? – Falei com um pouco de vergonha.
- Ahh, claro! – Apontou em direção á um corredor em minha direita – Entre ali, a segunda porta á esquerda.
- Obrigado, Matheus! Até mais. – Então me virei e entrei naquele corredor. Matheus estava certo, vi uma placa na porta que dizia:

TURMA 602
5°SÉRIE
6°ANO

Com um frio na barriga, escutei a voz de alguém mais velho, por isso, bati na porta. Um silêncio se fez do outro lado quando ouvi.
- Entra! – Obedeci a essa voz e virei a maçaneta. Quando entrei, tinha uma professora de aparentemente 37 anos, loira, e usava um vestido verde-maravilha bem escuro que combinava perfeitamente com seus olhos verdes.
- Meu nome é Carine, mas me chame de Professora Carine...
- Sou Aquiles, e Carine é o nome de minha mãe – Sorri quando falei.
- Não me interessa se meu nome é parecido com o de alguém, você está atrasado, sente-se ali. – Ouvi alguns risinhos da turma enquanto me dirigia para o meu lugar. Na terceira carteira ao lado da janela, no canto, onde se podia ver a quadra da escola. Virei-me para a lousa e a Professora Carine que me esculachou na frente de todos, estava escrevendo no quadro. Ela lecionava Inglês. Comecei a copiar para não ter mais problemas no meu 1° dia de aula.


Logo no finalzinho da aula, ouvi batidas na porta.
- Entra! – A Professora Carine rugiu.
- Bom dia alunos! Bem-vindos! Sou a Diretora Eliza, pra quem não me conhece. Estou aqui para entregar a vocês a lista de livros que precisam. Desculpe ser tão em cima da hora, mas houve um problema com a nossa Editora. Vou fazer uma chamada, quando ouvir seu nome levante e venha aqui pegar. – Então a Diretora Eliza foi chamando: Alberto, Alexandre (fiquei com muita raiva quando ouvi esse nome) até que ela falou um nome: Alice.
Uma garota linda levantou de trás de mim, como eu não a vi? Alice tinha um cabelo longo com mechas loiras, chamadas também de Mechas Californianas, e usava uma calça justa preta, um all-star preto e uma blusa de meia manga vermelha. Distraí-me tanto com Alice que quase não ouvi a Diretora Eliza chamando meu nome até que a Professora Carine gritou:
- ATRASADINHO! VEM AQUI! – Eu pulei da carteira e levantei sem graça para buscar a lista. Aproveitei para dar mais uma olhada em Alice. Não lembro direito de mais nada que aconteceu, Alice realmente mecheu comigo. Quando “acordei” estava voltando pra casa com Ana e Luiz, eu só tinha uma coisa na cabeça, ou melhor, uma pessoa na cabeça:
Alice.

Capítulo 3: Meu primeiro combate.

Capítulo 3: Meu primeiro combate.

Último dia das férias, tenho que aproveitar muito bem esse domingo, o que me restou fazer? Estudar a letra das músicas do CD que o Luiz me deu. Fiquei a manhã inteira no quarto e nem tomei banho apenas fiquei ouvindo a majestosa voz da Amy Lee enquanto eu lia as letras e tentava gravá-las em minha mente. Sou um fracasso em Inglês. Pelo menos consegui aprender uma música.
Foi quando meu pai entrou pela porta e me olhou com um brilho maligno nos olhos e então sorriu.
- Moleque! Levanta daí e vai lá pra baixo.
- Porque, pai? – Achei meio estranho meu pai falar assim comigo.
- Sim senhor... – Desconfiado fui andando em direção a porta, onde meu pai estava parado de braços cruzados com a cara fechada.
- Ei, ei, ei, ei, ei, ei! – Meu pai me parou
- Sim? – Perguntei confuso
- Trate de tomar um banho! Você está fedendo!
- Sim senhor -  me virei e fui em direção ao meu banheiro. Nesse banho não cantei, estava um pouco preocupado com o que meu pai queria, então tomei um banho muito rápido para acabar logo com minha angústia.
Fui descendo as escadas devagar e vi o que jamais sonhei.


Vi minha mãe com os braços vermelhos sentada no chão, chorando e soluçando desesperadamente e meu pai estava sentado na poltrona da sala logo acima dela.
- Venha aqui seu bastardo cuspido por essa vadia! – Fiquei com muito ódio do que ele falou sobre minha mãe.
- Essa vaca falou que você é um cantor. Diga a ela, Aquiles, que você vai ser algo melhor do que isso. Diga Aquiles! – Meu pai começava a me assustar muito, se levantou da poltrona e ficou na minha frente. – Fale! Eu não sou um cantor.

Reuni todas as forças que tinha e comecei a cantar um trecho da música-tema do Titanic chamada também de “My heart Will go on”. Meu pai me acertou um tapa de mão virada na minha cicatriz da madeirada da minha mãe, o que fez meu corpo todo tremer.
- Diga Aquiles! EU-NÃO-SOU-UM-CANTOR-DE-MERDA! – Eu não disse nada e continuei cantando e outro tapa me veio á cara quando eu caí e chutes na minha costela vieram. Enquanto eu apanhava, minha mãe chorava muito e tentava dizer “pare”, mas só se ouvia gemidos dela. Foi quando eu tive a minha iniciativa numa parada da série de chutes e pontapés, fiquei de pé, encarei meu pai e chutei com a sola do pé seu joelho, quando ele caiu no chão soquei sua cara, enquanto minha mãe se derramava em muitas lágrimas e gritos.
Apenas uma coisa me fez parar de socar meu pai. Vi Fernando na cozinha, seus olhos estavam com um brilho triste, estava com um pijama, e um ursinho e um boneco do superman nas mãos. Levantei rapidamente, ajudei minha mãe a se levantar e pedi para ela ir ver meu irmão.

Meu pai estava inconsciente, sem saber o que fazer, sentei na poltrona do meu pai e fiquei observando ele friamente, seu sangue escorria do nariz e da sobrancelha esquerda e seu joelho estava quebrado. Chamei uma ambulância.
Depois de quinze minutos de espera, os paramédicos chegaram em minha casa, junto com a polícia, claro. Levaram meu pai e passaram um remédio nos hematomas da minha mãe e limparam a ferida do meu rosto. Minha mãe registrou um boletim de ocorrência de agressão. Eu estava sentado no segundo degrau que tem na minha porta de entrada olhando a viatura da ambulância ir embora e minha mãe chorando com Fernando no colo, quando vi um pacotinho pardo, amassado e jogado no canto. Levantei-me e fui ver o que tinha naquilo.

Abri o pacote com todo cuidado, lá dentro tinha um CD novo do Evanescence, a única banda que eu ouvia e tinha uma camisa com a foto da Amy Lee, que eu adorei. Tinha também um bilhete dizendo: “Boa sorte, saiba que eu estou com você. Do seu vizinho, Luiz”. Mesmo depois de uma tribulação que passei pude abrir um sorriso, não muito grande, mas um sorriso. Aquele bilhete me deu forças para continuar. Pude dizer bem baixinho comigo mesmo “obrigado amigo”. Eu estava pronto para enfrentar o que iria acontecer na escola, estou mais forte.
Fui até minha mãe no portão e dei um abraço nela e em Fernando.
- Filho, muito obrigado por me proteger.
-Mãe... Saiba que eu sempre vou estar do seu lado.
- Não ligue para o que o Alexandre disse, vc é um ótimo cantor e vai ser bem sucedido nisso.
- Obrigado pela confiança mãe, olhe o que Luiz me deu.
- Nossa, que é essa mulher linda na camisa? Sua namorada? - Minha mãe deu um sorrisinho
- Quem dera mãe... Essa é a Amy Lee, minha vocalista favorita.
- Muito legal... Agora vai descansar, filho. - Minha mãe entrou no quarto junto com meu irmão. Tomei outro banho silencioso e tentei dormir, mas algo me amedrontou.
E se meu pai voltasse e matasse minha mãe e Fernando? Levantei da minha cama quando esse pensamento me veio. Fui até a cozinha e peguei a maior faca e mais pontuda, tranquei a porta do quarto da minha mãe, joguei a chave por baixo da porta e lá dormi, protegendo minha família até que a morte me impeça disso.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Capítulo 2: Sonhos em construção.

Capítulo 2: Sonhos em construção.

Acordei de manhã cedo e pensei: “ótimo, hoje estou de castigo!” abri minha janela e olhei para o quintal dos fundos. Vi minha mãe jogando uma porção de moveis antigos no meu esconderijo. Quando olhei aquilo fiquei muito assustado, só pensei em trocar rapidamente de roupas, pois eu estava de camiseta e samba-canção, e ir correndo para o quintal dos fundos para impedir minha mãe de destruir meu esconderijo.

Chegando perto do esconderijo minha mãe não me viu e continuou a jogar um monte de móveis no meu cantinho enquanto resmungava.
- Pára mãe! – Tentei segurar um Criado-mudo das mãos dela.
- Garoto, esse canto já causou problemas demais. – Minha mãe não tinha superado o meu sumiço de ontem á noite, ou melhor, hoje mais cedo.
- Mãe, eu gosto muito de ficar ali! Faz isso não! – Quando eu tentei segurar mais um móvel da mão da minha mãe ela me acertou com uma madeira na minha cara, desmaiei.

Acordei assustado, era o horário do almoço, pois eu podia sentir o cheiro de frango no ar. Eu estava com uma gaze na bochecha esquerda e um copo com água na cabeceira da cama. Tentei levantar sem sentir dor na cabeça, não sei se o golpe de madeira que eu levei foi acidental ou não, mas sei que doía. Fiquei em pé e comecei a caminhar em direção á janela. Abri a cortina com uma mão e vi o que jamais queria ver, meu cantinho estava cheio de móveis velhos queimados. Fiquei triste ao ver aquilo. Lembrei-me das coisas que eu fiz dentro daquele canto. Divertia-me brincando de “Guerra do Vietnã” com meus soldadinhos, Cantava algumas clássicas canções que eu ouvia milhares de vezes na casa do meu avô, por mais que a letra sempre estava errada, eu me divertia cantando. Agora minhas raízes, todas estavam cobertas por móveis antigos queimados.

Minha mãe abriu a porta e veio andando em minha direção e me abraçou.
- Me desculpe pela pancada, Aquiles. – Minha mãe estava com um cheiro de queimado.
- Tudo bem, isso não é nada... Mas por quê? – Abri a cortina e apontei para o canto com os móveis.
- Filho, eu quero te proteger. Arrume outro canto para brincar, mas não aquele e agora desce, o almoço está pronto. – Minha mãe saiu e não fechou a porta, deixou encostada e eu ouvi alguma coisa. Uma música, apenas piano e voz. Estava saindo da casa do meu amigo Luiz. O estômago então roncou e desci logo para almoçar.


Cheguei á mesa e a comida estava posta bem quente e minha mãe já tinha começado a comer.
- Onde está meu pai? – Perguntei e minha mãe não respondeu – Cadê meu pai?
- Está trabalhando e você sabe muito bem, não deveria nem ter perguntado. – Minha mãe ficou nervosa derrepente.
- Desculpe, a madeirada apagou minha memória! – Falei com o intuito de magoar ela, e consegui.
- Garoto, come e cale essa sua boca. – Minha mãe falou e voltou a olhar para o prato. Então a acompanhei no silêncio e almocei bem rápido.


Terminando de comer, fui ao banheiro, escovei meus dentes e tirei o curativo da bochecha para ver como estava o machucado. Era um corte não muito profundo, mas, longo ia de debaixo da orelha até quase meu lábio e minha Têmpora estava roxa. Fiz um novo curativo e escutei novamente a mesma música tocando na casa do Luiz. Decidi ir lá para saber qual era a bela música que ele estava tocando.
Desci as escadas e abri a porta e fui andando para o portão, saber finalmente que música estava mexendo comigo. A casa do meu primo não é nem um pouco longe, é do lado da minha.
Cheguei e dei de frente com um pequeno portão de grade e chamei pelo nome de Luiz.
- LUIIIIIIIIZ! – Gritei infinitas vezes e ninguém respondia. Até que a Tia Elizângela apareceu na janela, levantei meu braço e dei um tchau. Ela me fez um sinal de “espere” e alguns segundos depois a música parou.
Vi a cabeleira de Luiz aparecendo e vindo com um sorriso em minha direção. Luiz era alto, tinha um cabelo grande, moreno e um liso natural, mas ele passava algumas coisas para ficar melhor. De preto como sempre.
- Diz ai, Aquiles! – Apertamos nossas mãos e fui logo ao assunto
- Cara, gostaria de saber que música que estava tocando ai.
- Qual música? Tocou milhares hoje de manhã.
- Uma com piano e que...
- Vamos entrando! – Luiz me interrompeu e me puxou para dentro do quintal.
- Cara! Onde tu arrumou isso? – Apontou para meu machucado no rosto.
- Eu levei um tomo e aconteceu isso.
- Nossa... – Luiz ficou surpreso.


Entrei na casa de Luiz e logo vi a “Tia” Elizângela na cozinha, lavando os pratos. Entrei na cozinha para falar com ela.
- Oi meu anjo! Ela deu um beijo na minha bochecha boa e quando viu a outra levou um susto. – Nossa! Como aconteceu.
- Bem... Eu...
- Ele caiu mãe... Acredita? – Luiz me interrompeu.
- Nossa, Aquiles, cuida desse machucado direitinho hein!
- Pode deixar Tia Elizângela. – Sai da cozinha e continuei escutando o barulho da água caindo na pia.


Entrei no quarto de Luiz. Ele estava com uma porção de CDs de rock. Estava tocando um chamado de “AC/DC”, adorei a banda. Ele foi dando uma porção de CDs de rock na minha mão e um me chamou a atenção. Estava escrito na Capa “Evanescence” e tinha uma bela mulher morena na capa.
- Luiz... Coloca esse aqui... – Entreguei o CD do Evanescence na mão dele.
- Evanescence? Ta né? Não gosto muito, se gostar pode ficar com esse CD. – Luiz então colocou e CD e fiquei ouvindo com muita atenção. Ouvi três músicas, a quarta chamou minha atenção, olhei á trás do CD e a quarta música se chamava “My Immortal”. Aquela música me deu vontade de chorar era a que eu tinha ouvido no meu quarto e quando estava no banheiro.
- Luiz... É esse aqui. – Virei o CD na direção dele e ele nem olhou porque estava entretido com sua Les Paul, me disse que eu podia levar. Levantei da cama, apertei a mão do Luiz que me levou até no portão, mas antes passei na cozinha, falei com a Tia Elizângela e sai da casa de Luiz. No pequeno trajeto, todo tempo eu olhava para o rosto delicado da moça morena, voltei correndo para casa do Luiz.
- Luiz! LUIIIZ! – Gritei um pouco histericamente até que ele apareceu.
- FALA! – Estávamos conversando por gritos.
- QUAL NOME DESSA MULHEER?
- DE QUEM?
- A MULHER DA CAPA! – Levantei o CD do Evanescence.
- AMY LEE! AMY LEE! – Ele gritou e eu fiz um positivo com a mão.

Voltando mais uma vez pra casa, fiquei pensando. “Jamais vou conhecer ela, mas minha carreira vai começar por aqui”. E fiquei sonhando mais uma vez comigo cantando para um público enorme e muito famoso, entrei muito feliz em casa. Era uma quinta-feira. Eu finalmente iria entrar no ginásio, estava um pouco animado com isso e faltavam apenas uma semana para o recomeço das aulas. Minhas férias não foram muito animadas, apenas cantei e visitei meu avô coisas da minha antiga rotina. Eu não tinha amigos ao derredor da minha casa e nem na antiga escola. Agora eu tinha boas músicas em minhas mãos para cantar, tudo corre bem.

Capítulo 1: Meu talento descoberto

Capítulo 1: Meu talento descoberto.

Meu nome é Aquiles, hoje tenho 16 anos, tudo o que acontecerá aqui, não foi apenas comigo. Muitas outras pessoas também sofrem ou já sofreram. O nome de meus pais são Carine e Alexandre, tenho um irmão mais novo com 4 anos com o nome de Fernando, meus avós não moram com minha família mas também são muito importantes para mim, vale muito a pena falar deles. Seus nomes são Abigail e Alfredo. Meus primos e minha tia se mudaram para o Canadá, não fazem parte da história. Pelo menos dessa. Tenho, ou pelo menos tinha uma namorada, ela me traiu quando eu adoeci, foi assim que descobri que ela jamais me amou. Não tenho ódio dela, mas também não ligo mais para ela, seu nome era Alice. Quando eu chorava, ela enxugava as minhas lágrimas. Eu a amava. Mas prefiro esquecer para sempre de Alice e contar com quem eu posso.


Não fui uma criança pra lá de muito alegre, muito saudável ou que os amigos da escola gostavam de brincar. Eu não era de uma família rica, por isso as crianças me ignoravam um pouco, eu não tinha muitos brinquedos e ficava olhando elas brincarem. Em casa era onde eu mais ficava feliz na vida. Eu tinha um esconderijo no fundo do quintal, era um pequeno corredor sem saída, o chão de terra batida e tinha alguns soldadinhos cravados na areia, eu sempre descobria uma nova brincadeira a cada vez que eu entrava naquele cantinho eu fazia invenções, cantava e por ser um “cantinho secreto” nunca mostrei aquele lugar á ninguém, quer dizer, a quase ninguém. Uma noite, eu tinha feito 10 anos e fui logo correndo para o meu cantinho, cantar, pois no ano seguinte ia começar numa nova escola. Talvez os dias de me ignorarem finalmente iriam acabar. Comecei a cantar: Melissa,More Than Words e I Can't Get No, milhares e milhares de vezes por muitas horas eu acho, até que escutei alguém chamando desesperadamente pelo meu nome. Não tinha idéia de quanto tempo fiquei no meu esconderijo. Era meu avô Alfredo, quando escutou minha voz, veio andando em direção ao meu cantinho me chamando.
- Aquiles... Você está ai Aquiles?- Com muita vergonha sai do meu esconderijo.
- Estou aqui vô.
- Menino danado! Onde se meteu? Já passam das 2 horas da manhã, sua mãe está desesperada procurando você!
- Mas, eu só estava aqui em um esconderijo que eu tenho desde quando eu era criança.
- Mas o que você estava fazendo ai, Aquiles?
- Bem... Cantando...
- Vai valer a pena, meu netinho? Apanhar de sua mãe para cantar? Quero ouvir uma canção, Aquiles... – Meu avô estava me pedindo para cantar uma canção qualquer para ele, estava convivendo com ele durante 10 anos, mas não podia deixar de ficar com vergonha.
- Sim senhor vô... – Então cantei “I Feel Good” do James Brown, com a letra toda errada, mas meu avô não percebeu.
- Garoto... – Meu avô estava em choque. - ... Você canta muito bem! Mas vamos logo meu pequeno cantor, sua mãe está te procurando.


Com um aperto no coração, deixei meu avô me levar de mão dada até a minha mãe, que estava chorando muito e nervosa com uma xícara na mão.
- Sua peste! Minha mãe chegou perto de mim pra me acertar um tapa, mas meu avô me protegeu.
- Calma, Carine! O menino só estava cantando, ele perdeu a noção da hora.
- Não me interessa o que ele estava fazendo! Eu me preocupei com você Aquiles!
- Me perdoe, mamãe... Não farei nunca mais. - Prometi, acompanhando minha mãe com as lágrimas.
- Acho bom você nunca mais fazer mesmo! Agora vai dormir! E você está de castigo amanhã! - Minha mãe secou as lágrimas e tomou mais um gole do que eu achava que era algum chá calmante. Minha mãe moveu o braço e logo percebi que sua mão estava tremendo muito, ela estava a beira de uma ataque nervoso.
- Tchau vô. - Sai de trás do meu avô e entrei pela porta.
- Me perdoe mais uma vez mamãe... - Entrei e logo fui subindo as escadas para ir no banheiro, tomar um banho e dormir. Pude escutar uma conversa entre meu avô e minha mãe, era de madrugada, como estava tudo silencioso, eu podia ouví-los como se eles estivessem ao meu lado

- O menino tem talento, você deveria levar em conta! - Ouvi meu avô falar
- Pai, amanhã eu converso com ele... Agora o senhor precisa descansar. - Minha mãe estava muito mais calma, ou o chá fez efeito ou ela se acalmou mesmo. Escutei passos nervosos e rápidos na sala. Era meu pai
- Acharam o menino, Carine? - Meu pai parecia muito estressado
- Acharam sim, meu amor. Meu pai disse que ele estava cantando em um cantinho no quintal dos fundos.
- Cantando? - Meu pai pareceu surpreso com o que minha mãe falou.
- Pois é Alexandre, ele disse que o Aquiles cantou uma música do tempo dele, e muito bem.
- Amanhã nós enquadramos ele e pedimos pra cantar alguma música para nós dois pra saber, tá bem?
- Tá bom, amor... Agora vamos deitar. - Consegui ouvir o estalo do beijo dos dois e fiquei enojado com isso. Ficou então um silêncio na casa inteira e na rua.
- Eu sou um cantor... - Pensei comigo mesmo e então sorri. Tomei um banho rápido e logo entrei no meu infantil quarto e começei a cantar bem baixinho "Pais e Filhos" do Legião Urbana. Começei a sonhar com meu futuro de cantor, me apresentar em lugares cheios e ter muita fama,fui embalado pelo majestoso silêncio da madrugada e adormeci com um sorriso bem largo no rosto.